U2


    Há coisas que são muito difíceis de explicar e um concerto dos U2 é uma delas. Primeiro, porque é uma banda com mais de 30 anos, ou seja, já andavam a dar concertos quando a maioria das pessoas que vão a concertos não era nascida. Depois, porque, ao contrário de outras bandas com muitos anos de estrada, não ficaram parados no tempo, inovando e criando novas sonoridades a cada álbum. Ora estes dois factores em si fazem com que consigam dar espectáculos únicos, vibrantes e sempre inovadores, mesmo quando a média de idades da banda já vai nos 50 anos.

    É-me impossível ser imparcial quando falo nos U2 porque, para mim, vão ser sempre a maior banda da história da música. Sim, também há os Beatles e os Stones e tantas outras bandas que inovaram e enriqueceram o panorama musical, mas nenhuma vai alguma vez conseguir fazer o que eles fazem. E não tem apenas a ver com a música, nem tem apenas a ver com o palco ou os efeitos visuais, nem mesmo com o seu activismo político. Tem a ver com algo mais profundo. Quem gosta dos U2 não gosta só um bocadinho. É quase como ser de um clube. Não se pode ser só um bocadinho, nem se deixa de gostar só porque não apresenta resultados. É um sentimento mais religioso.

     Ainda assim, às vezes interrogo-me se estarei a exagerar na minha devoção, arriscando andar a leste do que se passa na música actual (interrogação essa que surge mais frequentemente quando saem os cartazes dos festivais de Verão e desconheço metade dos artistas). Faço um esforço para ouvir o que os miúdos ouvem, sem preconceitos, e confesso que há coisas mesmo muito boas. Só que no final deparo-me sempre com o mesmo problema: já fui a quatro concertos dos U2 e, depois de vê-los em palco, todas as outras bandas são entediantes. (O que me leva a um aparte em relação aos pais das crianças que vi no concerto: acabaram de hipotecar o futuro festivaleiro dos vossos filhos.)

     Podem dizer que é delírio meu, que o concerto só vale pela produção megalómana, que eles só foram bons até ao “Joshua Tree” ou que hoje em dia ninguém os ouve. Se calhar a geração anterior à minha dizia o mesmo em 1990. Não sei se os miúdos que estão a conhecer os U2 hoje vibram com o “Get on your boots” como eu vibrei com o “Even better then the real thing”. Mas os estádios não estão esgotados em todo o mundo só por causa dos cotas que vão para ouvir os clássicos e relembrar os velhos tempos. Também não são os cotas que dormem à porta da bilheteira para garantir entrada. Por isso, só posso concluir que a música continua actual, os devotos continuam a crescer e eles são de facto a melhor banda de sempre. A quem tem dúvidas dou apenas um conselho: tentem ir a um concerto e ouçam o “Where the streets have no name”. Se não sentirem nada, é porque não são humanos.


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