Não vale a pena fazer planos


Até há sete semanas, ficava de mau humor se dormisse menos de oito horas por noite ou saltasse uma refeição. Ficava doente por ver a sala desarrumada, com almofadas caídas no chão e copos espalhados na mesa, ou sempre que o cesto da roupa suja começava a transbordar. Era impensável não ter as unhas impecáveis, salpicadas por vernizes da cor mais fashion da estação, ou passar um dia sem calçar um dos quarenta pares de saltos altos que habitam no meu armário.

Mas depois surgiu um pequeno ser a trocar-me as voltas todas e dou por mim a dormir nunca mais de três horas seguidas, a olhar para o relógio e reparar que passou-se meio dia desde a última vez que comi, a encontrar várias peças de roupa espalhadas pela casa, bem como copos, pacotes de leite, babetes e chuchas e simplesmente ignorá-los, a ter as unhas numa lástima, porque cada vez que vou pintá-las lembro-me que o tempo de secagem vai coincidir com a hora de mudar a fralda e, agarrem-se que esta é mesmo grave, a deparar-me com pó nos meus stilletos, tal é o tempo que passou desde a última vez que viram a luz do dia (ou da noite).

O "amanhã é que vou cortar o cabelo" ou o "hoje à noite vou finalmente ver aquele filme" começam a soar a promessas eleitorais de final de campanha. Por isso, a primeira grande lição que o pequeno ser que se mudou cá para casa me ensinou é que não vale a pena fazer grandes planos. É viver um dia de cada vez e aproveitar horas como esta, em que calhou eu estar a passear pelo meu blog e dar-me uma enorme vontade de escrever no exacto momento em que ele dorme profundamente. Se tivesse planeado, decerto não iria conseguir.



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