À espera do sol

Quem me conhece sabe como detesto o frio. Não consigo achar piada a quase nada relacionado com temperaturas abaixo dos 25ºC, com excepção do Natal, de lareiras e de castanhas assadas. Para mim o Inverno devia começar no dia 1 de Dezembro e acabar no dia 1 de Março. Pronto. Três meses de frio para arejar os casacos compridos e as luvas da moda, imediatamente seguidos dos tais 25ºC, que gradualmente caminhariam para os 30ºC, para aí ficarem durante pelo menos seis meses.

Assim, não é de estranhar que ultimamente tenha andado de muito mau humor. É que não me lembro de um Inverno mais longo e rigoroso que este (talvez porque efectivamente não se via um Inverno assim há 40 anos e eu só tenho 33). Já não consigo olhar para as mesmas camisolas de malha, para as mesmas botas de cano alto, para os mesmos cachecóis. Já não consigo ver o edredão, o aquecedor e a manta de flanela com que cubro as pernas no sofá. Já não consigo ter ideias pra mais um dia Domingo de chuva.

Quando olho para as havaianas escondidas no fundo do armário apetece-me chorar. Juro. Ainda no outro dia, ao procurar de uma t-shirt, abri a gaveta onde guardo os biquinis e desatei a gritar «Porquê????», enquanto me espancava mentalmente por todas as vezes em que gozei com aqueles pacotes turísticos para as massas. Quem me dera poder enfiar-me agora num charter apinhado a caminho de um hotel impessoal, com crianças aos gritos e a fazerem chichi na piscina e um buffet exactamente igual a todas as refeições, só para sentir na pele uma aragem quente e poder dar um mergulho num mar azul turquesa.

Se tivesse tendência para depressões este teria sido o ano para me internarem. A sério. Já não bastava a soturnidade em que o país mergulhou nos últimos meses, já não bastavam as notícias do mundo a colapsar, dos amigos que emigram, do regresso do Sócrates , agora também temos de levar com a fuga do sol, o nosso companheiro de sempre, aquele que nos fazia sentir superiores aos povos do norte da Europa, como quem diz, não temos o vosso dinheiro, mas temos este solinho pelo qual vocês pagam e bem nos resorts à beira-mar plantados.

Haja paciência...








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