Há vários tipos de mãe


Ao longo dos anos, sobretudo dos últimos dois, tenho vindo a detectar vários padrões de mães, que podem ser mais ou menos agrupadas em oito tipos (ou estereótipos) distintos. Desde as mais fundamentalistas, às mais relaxadas, há mães para todos os gostos. Algumas têm um bocadinho de várias, formando misturas explosivas como a "Mãe Aleijada e Hipocondríaca" ou hilariantes como a "Mãe Hippie e Aluada". Mas o mais importante é que são todas mães, ou seja, seres superiores que geram vidas e transbordam amor. Cada uma à sua maneira.

Mãe Aleijada
 O termo pode parecer depreciativo e, na verdade, é mesmo, porque este é o tipo de mãe mais irritante. É a mãe que ao fim de uma semana de maternidade acha que já sabe tudo melhor que ninguém e não compreende porque é que existe qualquer outra actividade na vida que não seja ser Mãe. Está sempre a mandar palpites e a mostrar como os seus métodos são os mais correctos (têm de ser os mais correctos, porque ela já leu todos os livros que interessam e está a fazer tudo como manda a praxe!).
Antes de ser mãe até era uma pessoa normal, mas depois o seu mundo mudou: agora só as crianças interessam e esse é o único tema sobre o qual gosta de falar- o trabalho é um mero local onde angaria audiência para os seus monólogos sobre puericultura; o marido é um escravo que serve para carregar os sacos, pagar as contas e acompanhá-la nos inúmeros eventos sociais, sempre relacionados com crianças; as amigas só continuam na sua vida se tiverem filhos, já que as outras são umas infelizes que não compreendem o que é ser mãe e não estão interessadas nas suas histórias sobre partos, amamentação e colégios. Por falar nisso, a sua maior preocupação, desde que a criança nasce, é exactamente o colégio que irá frequentar, porque os primeiros anos de educação são determinantes e era o que faltava o colégio dos filhos da Bernarda ter aulas de violino e o dela não. Pertence a tudo o que é grupo de mães, conhece todos os blogues e já experimentou todas as actividades relacionadas com crianças, desde que aprovadas pelas Associação Portuguesa de Pediatria. Escusado será dizer que é supercompetitiva, os filhos são sempre os melhores e tem horror às Mães Hippies, Descontraídas ou a quem quer que se atreva a dizer que há coisas mais interessantes na vida do que bebés.
Mãe Aluada 
Esta é uma mãe de coração na terra mas de cabeça no ar, já desde a gravidez. São comuns episódios como fumar porque se esqueceu de que estava grávida ou só fazer a mala da maternidade quando lhe rebentaram as águas. É a mãe que às duas da manhã repara que não há mais fraldas, deixa queimar a sopa, troca a hora dos antibióticos e precisa de lembretes no telemóvel para não se esquecer do aniversário da criança. Apesar de tudo é uma mãe carinhosa, brincalhona e presente... quando se lembra de ir buscar os filhos à escola. Aliás, desde cedo que os seus filhos sabem que, se precisarem de alguma coisa realmente importante, género fato para a festa de Natal, o melhor é pedirem à avó. O que a deixa um bocado frustrada porque normalmente é uma pessoa ligada às artes e adora fazer essas coisas.

Mãe Descontraída 
A mãe em que todas nós, eventualmente, nos tornamos - sobretudo a partir do terceiro filho. É uma a mãe rebelde, que lê os livros apenas para se certificar que não vai fazer nada daquilo, que nunca viu um esterilizador e que passa a chucha pela camisa quando esta cai ao chão. O seu lema é "no tempo das nossas mães não havia nada destas modernices e sobrevivemos". Não é grande fã da amamentação, deixa o bebé com a primeira pessoa que se oferecer e está-se a borrifar se as visitas lavam as mãos antes de pegarem no rebento. É a mãe que vemos na praia a sorrir enquanto os miúdos comem areia e que só liga ao pediatra quando a febre não baixa há mais de três dias. Quando os filhos crescem, esta mãe deixa-os fazer coisas impensáveis como trepar às árvores, brincar na rua, andar de metro ou escolher as suas próprias actividades extra-curriculares. São vistas como totalmente irresponsáveis por umas, e um exemplo a seguir por outras.


Mãe Fashion 
O sonho de uma mãe fashion era ser a Victoria Beckam ou a Angelina Jolie, cujas aparições públicas são sempre dignas da capa da Vogue e lançam a próxima tendência em acessórios para mães e crianças. É uma mãe que não deixa nada ao acaso: do biberão ao carrinho de passeio, tudo tem de ser de uma marca trendy ou de algum designer de nome impronunciável; o anúncio de nascimento é de uma originalidade de fazer corar o Stefan Sagmeister; as fotografias que publica (preferencialmente no Instagram) parecem tiradas numa sessão fotográfica profissional e o quarto da criança é, no mínimo, concebido por um designer de interiores (quando ela própria ou o marido não são os autores do projecto, já que, por norma, esta mãe tem profissões ligadas ao design, arquitectura ou moda). Qualquer mãe que ache que está muita gira naquele dia é imediatamente remetida para a sua insignificância quando se coloca ao lado de uma Mãe Fashion. Por isso, é um tipo de mãe a evitar quando estamos com a auto-estima em baixo.

Mãe Hipocondríaca 
Esta mãe é o pesadelo de qualquer pediatra. Aliás, já tinha sido o pesadelo do obstetra, que, por sua causa, mudou três vezes de número de telefone no espaço de nove meses. É a mãe que não pode ler nada, pois sente logo (ou vê nas suas crias) todos os sintomas. Mas o pior é que está sempre à procura de informação sobre doenças e epidemias. Ao primeiro espirro enrola a criança num cobertor polar, nunca lhe veste menos de três peças de roupa e tem termómetros em todas as divisões da casa para garantir uma temperatura adequada a cada momento. As visitas têm de se descalçar e desinfectar as mãos ainda à porta de casa e, se tiverem uma narina entupida, o melhor é nem aparecerem. Os seus melhores amigos são os esterilizadores, os purificadores de ar e as toalhitas desinfectantes, e o seu maior pesadelo o infantário. Vive em constante ansiedade e, quando os filhos já têm trinta anos, continua a perguntar se andam bem agasalhados e se tomaram as vitaminas.

Mãe Hippie 
Uma mãe totalmente Zen, adepta do parto natural, de preferência dentro de água, e da amamentação até à idade escolar. Os filhos só usam fraldas de pano, roupa em segunda mão e dormem com os pais até implorarem para ir para as suas próprias camas. Evitam a vacinação, a televisão e a inovação em geral. Por regra, são vegetarianas ou macrobióticas e os seus filhos só vão descobrir as maravilhas de um Happy Meal quando tiverem idade para irem ao centro comercial sozinhos. Ou se a educadora de infância for uma rebelde e lhes der a provar comida normal à revelia da Mãe, por já não aguentar o olhar triste das crianças a olhar para uma sandes de tofu, enquanto os outros meninos se lambuzam com fiambre e bolachas de chocolate.
Carregam os seus filhos em panos até aos três anos, frequentam aulas de Baby Yoga e só praticam actividades ao ar livre e em comunhão com a Grande Mãe Natureza. O seu sonho é viver numa quinta, o mais longe possível da civilização ocidental, onde as crianças possam ser livres e brincar nuas pelos campos.

Mãe Vai-com-as-outras
Esta é uma mãe extremamente insegura e que, por isso mesmo, está sempre à procura de conselhos e de aprovação alheia. Se ouve falar num novo biberão que previne as cólicas, deita logo os seus fora. Se ouve dizer que o melhor colégio é o X, trata logo de transferir os miúdos. Se o mãe do João fez a festa de anos no sítio Y e os meninos adoraram, ela também terá de fazer. Raramente segue o seu instinto e é altamente influenciável pelas Mães Aleijadas, que tudo sabem e tudo partilham, e pela sua própria mãe. Está sempre a comparar os seus filhos com os filhos dos outros, para se certificar de que está a fazer tudo como deve ser. Não é raro ter crises de choro à noite, enquanto se interroga se será uma boa mãe e se o seu rebento será feliz, quando bastava olhar para ele e para o seu ar saudável e bem-disposto para saber a resposta.

Mãezilla 
Sim, para os mais leigos em matéria de Banda Desenhada, é a conjugação da palavras Mãe com Godzilla, o destruidor monstro japonês. Este é o tipo de mãe que está sempre em stress, a gritar com os filhos ou a implementar regras típicas de uma academia militar. Tal como o monstro, não tem paciência para seres humanos em geral e crianças em particular, sobretudo a partir do momento em que começam a falar e a ter vontade própria. Normalmente a Mãezilla engravidou por obrigação, pressão social ou acidente e está desejosa de que os filhos cresçam depressa e lhe desamparem a loja para poder voltar a ter vida. Também tem os seus momentos de ternura, embora raros e em privado, não vá alguém reparar que tem um coração. É grande adepta dos colégios internos e dos acampamentos de férias.
(Quase todas as mães têm o seu momento Mãezilla, mais cedo ou mais tarde.)


ilustrações por Sofia Silva, à venda na sua loja online http://mademoisellesilva.blogspot.pt/

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