Lisboa, és a mais bonita


Confesso que não sou a pessoa mais viajada do mundo. Aliás, só há uns meses, quando estava a arrumar uma gaveta, reparei que o meu passaporte caducou em 2012 e eu nem dei por isso. No entanto, já levo algumas cidades emblemáticas no meu álbum de viagens e, tirando o Oriente, já pude visitar sítios como Nova Iorque, Marrakesh ou Rio de Janeiro, bem como muitas capitais europeias. O que me dá a capacidade de chegar a algumas conclusões e fazer afirmações como a do título desta crónica.

Vem isto a propósito de ter acabado de chegar de Barcelona onde passei quatro dias de descontracção (isto é, sem filhos!). Não foi a primeira vez que visitei esta famosa cidade catalã, pelo que desta vez o plano era mais deambular pelas ruas, e não andar a saltar de monumento em monumento a tirar fotografias. Assim, sem o deslumbramento de estar nos locais que ilustram o nosso imaginário, pude sentir a cidade verdadeira.  E o que descobri foi uma cidade escura (talvez porque os passeios são cinzentos e os prédios da cidade velha sejam daquela cor-de-burro quando foge provocada pelo tempo e pela poluição), onde as pessoas não são particularmente simpáticas, onde o barulho em qualquer parte é ensurdecedor, onde a poluição faz comichão nas narinas e onde as ruas mais conhecidas parecem a saída do metro em hora de ponta. É uma cidade bela e cheia de vida, mas ao final de cada dia ia para o hotel a interrogar-me porque será que toda a gente quer visitar Barcelona quando existe um sítio como Lisboa.

Passei quatro dias a pensar no Miradouro da Graça, no Cais das Colunas ou na Rua Garrett, que mesmo num sábado à tarde em vésperas de Natal é mais calmo que o mais calmo dos dias nas Ramblas. Por cada rua apinhada do Bairro Gótico, lembrava-me de Alfama, que mesmo com turistas, guarda sempre recantos genuínos por descobrir. Na zona da marina e do porto só me apeteceu fugir para um qualquer ponto da nossa zona ribeirinha, do Parque da Nações a Belém, linda, "rosa e limão sobre o Tejo" como a descreveu Eugénio de Andrade, emoldurada pelo Cristo Rei e pelas pontes.

Lisboa pode ser pequena e pode ter ruas esburacadas e pode ter bairros tristes e outros parolos e outros armados em finos e prédios que são autênticas aberrações, mas o conjunto de todas essas coisas, aliado aos monumentos, à história, às pessoas, ao "cheiro de flores e de mar",  no qual só se repara quando não o temos, faz de Lisboa uma cidade sem igual. Mesmo inundada de tuk-tuks e turistas, que para mim serão sempre bem-vindos e só trazem mais cor (e dinheiro) às nossas ruas.

Em conclusão, isto não é uma carta de amor à cidade do meu coração, até porque há centenas de fados e poemas que já enalteceram a beleza e autenticidade de Lisboa, muito melhor do que eu alguma vez poderia fazer. É apenas uma constatação feliz de que tenho a sorte de viver na cidade mais bonita.

Comentários

  1. Penso que isso acontece pela emoção da descoberta. Mas concordo, Lisboa merece ser visitada. Isto é, cada vez mais visitada. É uma cidade única, com um charme inconfundível :)

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