Querem privado? Paguem!


Esta coisa das manifestações dos colégios privados já me começa a irritar. A sério. Tenho andado caladinha, mas agora, cada vez que vejo uma pessoa vestida de amarelo, apetece-me insultá-la. É que eu sou pelas manifestações e pela luta por causas em que acreditamos, mas quando os cartazes que estas pessoas exibem dizem coisas como "temos o direito à felicidade" ou "deixem o meu filho estudar na melhor escola" fico perplexa. É que eu e os meus dois filhos também temos o direito à felicidade, mas parece que a nossa é um bocadinho mais cara: custa €880 por mês. E ainda estão no jardim de infância.

Mais, eu também quero que os meus filhos estudem na melhor escola. E para atingir esse objectivo tenho duas opções: ou inscrevo-os na escola pública aqui do bairro ou, caso a dita não me agrade, caso sonhe com actividades extra-curriculares espetaculares, visitas a museus, instalações com piscina, adivinhem o que é que acontece: pago.

Sinceramente não percebo qual é a dificuldade em perceber o que são contratos de associação e para que servem. Estes contratos foram criados há mais de 30 anos, numa altura em que a rede escolar pública não conseguia servir todas as populações. Com o tempo e a modernização da rede escolar muitos deixaram de fazer sentido. E quando há casos como o que é relatado pelo jornal Económico, muito menos: "o estudo da rede escolar privada pedido pelo Governo revela, por exemplo, que há um colégio financiado que tem ao lado uma escola pública com metade das salas vazias, e um colégio com 27 estabelecimentos públicos a menos de dez quilómetros."

Os colégios são um negócio, como são os hospitais e qualquer outro serviço privado. A escola pública não é. Os pais deviam lutar pela escola pública de qualidade, Universal e gratuita, como defende a Constituição, para a qual contribuem com os seus impostos, em vez de participarem em manifestações onde se ouvem coisas como "não há misturas". Não querem misturas com a realidade social onde se inserem, a qual preferem ignorar, e depois vêm fazer figuras ridículas nas ruas, mostrando um desfasamento com o país real e com as coisas que realmente são importantes para a maioria, como o facto de haver inúmeras escolas públicas à espera de serem concluídas enquanto as crianças almoçam num contentor, outras onde chove nas salas, ou o não poderem matricular os filhos na escola pública mais perto de casa por falta de vagas. Isso sim é interferir com a liberdade de escolha. Por isso, tenham mas é vergonha e aceitem que não são os contribuintes que têm de pagar para os vossos filhos andarem numa escola melhor. E se no final do ciclo os vossos meninos tiverem de passar "de cavalo para burro", se tiverem de se misturar com o resto do povo numa escola pública, vejam-no como uma vantagem: eles vão aprender mais cedo que a vida real não é uma redoma onde todos nos sorriem e dão palmadinhas nas costas.









Comentários

  1. Filipa, já a tinha em elevada consideração mas a sua lucidez ainda lhe creditou mais uns pontos.
    Cumprimentos desde Albufeira
    Rui Baptista

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  2. Concordo plenamente! Quem quer privado pague.

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