Odeio-te, adoro-te, odeio-te?

Tenho uma relação de amor-ódio com as tecnologias.

Tanto maldigo o iCoiso ao perceber que perdi uma hora da minha vida a olhar para ele, como a seguir agradeço ao Santo Jobs poder estar uma hora a falar com a minha irmã pelo Facetime. Tanto me irrito com o meu marido por dar um mau exemplo às crianças, como lhes dou o meu próprio aparelho para se entreterem no youtube para que eu possa terminar alguma tarefa lá de casa. Tanto odeio a falsa proximidade que as redes sociais nos dão dos nossos amigos, como fico feliz por, através delas, ir acompanhando alguns acontecimentos importantes das suas vidas, que de outra forma não iria acompanhar.

As tecnologias dão-nos tempo e tiram-nos tempo. Mostram-nos umas coisas e impedem-nos de ver outras. Espalham ideias fantásticas, mas também a estupidez ilimitada. Por isso, é normal que uns dias me apeteça beijar a maçã e logo a seguir tenha a tentação de atirá-la do quarto andar e carregar num botão que desligue a internet do planeta inteiro.

Hoje estou num daqueles dias em que não podia estar mais agradecida por viver ligada. E tudo porque recebi um email de uma leitora. Um email que me comoveu bastante. Bom, vou ser honesta: um email que me levou às lágrimas.

Era um agradecimento de alguém que gostou muito do meu novo livro e da minha forma de escrever, escrito com cuidado, com sinceridade, com o coração. Só isso seria suficiente para me comover, como aliás já aconteceu outras vezes. Mas parece que só desta vez é que realmente me apercebi do incrível que é poder receber a opinião de alguém que não conhecemos, que nunca vimos nem sabemos bem onde está, horas após a pessoa ter lido o nosso livro. Fez-me pensar em todas as vezes em que terminei um livro e tive vontade de falar com o seu autor. Como teria sido se eu pudesse ter enviado um email ou uma mensagem no facebook quando era uma jovem leitora? E se o autor me tivesse respondido horas depois?

E fez-me também pensar que, sem tecnologias, talvez nunca tivesse recebido as palavras que tanto me tocaram. Dificilmente um leitor se daria ao trabalho de ir procurar a morada da editora, escrever uma carta, ir aos correios e tudo mais. Eu cheguei a faze-lo quando era miúda, ao Carlos Pinhão e à Alice Vieira. Ele respondeu-me, mas demorou tanto tempo que eu já me tinha esquecido que lhe escrevera quando recebi a resposta. Hoje está tudo ali, no nosso iCoiso ou no computador. É imediato. É directo. É fácil.

Esta proximidade que se pode criar com as tecnologias é incrível para os leitores e abre espaço para diálogos que de outra forma dificilmente surgiriam. Mas para para mim, como autora, é ainda mais do que isso. É comovente, é inspirador e vale mais do que qualquer Top de vendas.

Por isso, obrigada a todos os que já me escreveram emails, mensagens de facebook ou comentários no blog. E a todos os que, não escrevendo, deixam likes e corações nas coisas que partilho. São vocês que me fazem querer escrever mais e que me dão energia para criar histórias apesar do trabalho e de duas crianças pequenas. Podem continuar a escrever. Eu certamente continuarei. No meu computador. Ligada à internet.





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