Sociedade Chiclete




Apesar das milhares de pessoas e famílias a quem a crise que agora enfrentamos vai afectar e empobrecer, algo de positivo dela surgirá. Uma mudança de paradigma, que lentamente vai acabar com a sociedade descartável e o novo riquismo dos últimos vinte anos.

Vamos voltar às coisas básicas como poupar água e energia, andar menos de carro, levar a geleira para a praia ou plantar salsa na varanda. Vamos voltar aos hábitos sustentáveis como levar o carrinho das compras para poupar os dois cêntimos por saco que nos cobram no supermercado, fazer compotas caseiras ou mandar arranjar os objectos que se estragam em vez de deitá-los fora. Contudo, ainda há um longo caminho a percorrer. O caminho do comodismo e do egoísmo.

Por exemplo, agora que vou ser mãe e tenho inúmeros amigos na mesma situação, tenho perguntado a todos eles quem vai aderir às fraldas reutilizáveis. Não são como as do nosso tempo, que apertavam com alfinetes de ama e tinham de ser dobradas a preceito. Estas são tão fáceis de utilizar como as descartáveis, mas em vez de se colocarem no lixo, colocam-se na máquina de lavar roupa e voltam a usar-se dezenas de vezes. Mais, por cada bebé que use fraldas até aos dois anos e meio poupa-se cerca de €1400 (sim, mil e quatrocentos euros), duas toneladas de lixo incinerável (sim, porque as fraldas descartáveis não podem ser recicladas) e milhões de árvores que todos os anos são abatidas para produzir a celulose necessária para os absorventes das fraldas. Ah, e ainda se acabam com as assaduras nos bebés, porque as fraldas reutilizáveis são de puro algodão, sem químicos. Resposta de todos os meus amigos: "por e tirar fraldas da máquina? Isso dá muito trabalho...". Pois dá. Tudo o que se constrói dá trabalho, sobretudo para quem cresceu na sociedade Chiclete. Mastigar e deitar fora é muito mais fácil.

Não estava à espera que todos se convertessem instantaneamente às fraldas reutilizáveis, que no fundo são apenas um exemplo de um produto mais barato e ecológico a ponderar numa altura de poupança. Mas podiam ao menos mostrar alguma curiosidade em conhecer esta alternativa, em vez de lançarem o seu categórico e egoísta NÃO. Conto, por isso, com esta crise para mudar mentalidades e espero que um dia toda a gente comece a olhar para além do seu umbigo e adopte práticas mais sustentáveis, não por necessidade, mas por opção.




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