Isto é mais difícil do que parece


O que é que é mais difícil do que parece? Escrever.

Escrever aqui; escrever no outro blog em inglês; escrever na página do Facebook em ambas as línguas; escrever milhares de emails a promover o meu livro novo (para bloggers, sites de livros, sites de livros baratos, sites de livros baratos em formato electrónico, sites que fazem tweets a promover os livros baratos...); escrever a amigos a pedir que passem a palavra sobre o mesmo; escrever no meu diário as inúmeras pequenas conquistas do Tiago ou as inúmeras pequenas coisas que constroem a minha vida; escrever cartas à minha professora primária, que está a ficar muito velhinha e doente ao ponto de, ao fim de vinte cinco anos de correspondência, já não me conseguir escrever de volta; escrever notas para os próximos livros; escrever listas do que tenho de fazer e listas de compras e listas de temas para outras crónicas; e, por fim, escrever títulos e textos comerciais, que no fundo é o meu trabalho, e o único que, por enquanto, dá para pagar as contas.

É que, às vezes, as palavras cansam, porque dançam à nossa frente mesmo quando fechamos os olhos (sobretudo quando fechamos os olhos) e fazem cócegas nas pontas dos dedos para que nos levantemos a meio da noite e as coloquemos num sítio seguro, senão, já se sabe, na manhã seguinte não restará nada daquela que ia ser a grande frase da nossa vida. Às vezes as palavras cansam porque não se juntam, assim, quando nós queremos. Porque há parágrafos que nos travam o raciocínio e os quais temos de rescrever vezes em conta. Porque não se consegue carregar num botão e fazer brotar saídas espirituosas sempre que nos dá jeito. Porque há palavras que, simplesmente, não se estão a dar bem umas com as outras ou com a pontuação que lhes arranjámos.

E, às vezes, as palavras cansam tanto que nem conseguimos falar, o que não quer dizer que estejamos chateados, alheados ou desinteressados de quem nos rodeia. Precisamos de cozinhar, martelar, jardinar, fazer crochet, fumar um cigarro, qualquer coisa que nos ocupe momentaneamente as mãos, na esperança de que as palavras desistam de nos baralhar o cérebro e desapareçam durante um bocadinho. Pelo menos até ganharmos coragem para as deixar cair num teclado ou num pedaço de papel.

Sim, isto é muito mais difícil do que parece. Mas hoje, depois de escrever, ficou um bocadinho mais fácil.





 


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