Um ano para ser feliz


Escrevo esta crónica em jeito de balanço. Bem sei que os balanços de fim de ano valem o que valem e que não temos de esperar pelos últimos dias de Dezembro para os fazer, mas este ano apetece-me mesmo, porque contra todas as expectativas e apesar de todas as desgraças, para mim foi um ano espetacular.

Foi um ano em que tive a sorte de assistir à fantástica aventura dos meus filhos a descobrirem o mundo. Pode parecer banal, mas não é. O tempo passa tão depressa que esta primeira infância, inocente, crédula, aventureira, passa num abrir e fechar de olhos se não estivermos suficientemente atentos para aproveitar cada momento e gravá-lo na memória antes que se desvaneça.

Foi um ano em que tive o privilégio de viajar. Por lugares conhecidos e desconhecidos. Não interessa o destino. Viajar, seja para onde for, alimenta a alma e a imaginação. Sair da rotina, ver rostos com que nunca nos cruzámos, saborear coisas que nunca experimentámos, desperta-nos os sentidos. O que nos faz estar mais despertos para as oportunidades que passam por nós.

Foi um ano durante o qual escrevi mais um romance. (Sim, haverá novidades em breve!) Apesar do trabalho, apesar da maternidade, apesar de ir alimentando quando posso este blog, apesar do cansaço físico, as minhas histórias encontram sempre maneira de sair para o papel. É uma urgência quase física tirá-las da cabeça e vê-las desenrolarem-se em milhares de palavras que sei que um dia serão lidas por alguém.

Foi um ano em que tive o prazer de fazer novos amigos, numa altura da vida em que, como pessoa introvertida que sou, não o esperava. E não foi apenas conhecer pessoas novas. Foi querer e gostar de estar com elas, foi sentir um à vontade como se nos conhecêssemos há vários anos. O que prova que a amizade, o amor, as oportunidades não diminuem à medida que envelhecemos, desde que estejamos atentos e abertos a recebê-los.

E foi o ano em que, desculpem-me os que acham que se dá demasiada atenção ao futebol, Portugal foi campeão da Europa, o que ainda hoje, cada vez que me lembro, me faz vibrar. (Aliás, no dia de Natal estava a passar a repetição do jogo e foi quase tão emocionante reviver aquele dia como no próprio 10 de Julho.)

Por isso, sim, apesar dos atentados terroristas e ambientais, dos recuos civilizacionais, da ascensão preocupante de nacionalismos e figuras incendiárias como Trump, apesar das guerras, dos refugiados, dos pobres, da morte surpreendente de tantos ídolos, da alienação provocada pelas redes sociais, foi um ano muito bom. Porque consegui superar a tristeza, a angústia e a revolta que todos esses acontecimentos me provocam e focar-me naquilo que me faz feliz. Porque todos os anos serão negros em muitos aspectos, mas se soubermos tirar deles os momentos que nos fizeram sorrir, se soubermos valorizar as pequenas coisas boas que nos acontecem, se espalharmos positividade, amor e esperança, qualquer ano merdoso se pode tornar um ano bom.

E é isso que desejo para 2017. Para mim e para todos vocês: saber transformar o que quer que o novo ano nos traga em algo bom. Manter a fé na humanidade (eu sei que é difícil, sobretudo depois do Trump, mas vamos tentar), celebrar as pequenas vitórias de cada dia, criticar menos e elogiar mais (principalmente nas redes sociais), e acima de tudo não ter medo. O medo paraliza-nos, o medo expõem-nos, o medo impede-nos de tentar, de mudar, de lutar. O medo é realmente o maior inimigo da felicidade. Sejamos, portanto, felizes.



Comentários

  1. "O medo é realmente o maior inimigo da felicidade" que grande verdade foi dita em tão poucas palavras. Ter medo de ser feliz é realmente a maior infelicidade que nos pode acontecer porque só depende de nós. Bom ano para si, Filipa.

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  2. Como sempre essa prosa fluida, obriga-nos a ler a crónica até ao fim. E sim, concordo plenamente que o medo tem que se manter longe das nossas vidas senão qualquer dia nem conseguimos pôr um pé fora de casa. Bom Ano para todos especialmente para essas adoráveis crianças que, felizmente, ainda estão na idade da inocência!

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  3. Obrigado por todo esse alto astral, que subscrevo a 100% e os sinceros votos de um 2017 ainda mais emocionante e surpreendente (pela positiva) do que o ano passado. Muitas Felicidades Filipa, extensivas à demais família. Beijinho e um grande bem haja por existir. Paulo Pereira

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