Os incêndios não são inevitáveis


Muito se tem falado, quer nos Media, quer nas redes sociais, sobre os incêndios que destruiram o nosso país. Digo o nosso país porque, embora a quilómetros de distância, embora longe do imaginário de quem vive nas cidades, as consequências humanas e ambientais de um incêndio destas dimensões tocam-nos a todos. E não é preciso conhecer alguém que tenha sido atingido pela catástrofe para ficar com o coração partido perante tamanha devastação.

Toda a gente tem uma teoria pessoal sobre o que correu mal. A resposta das autoridades, as terras abandonadas, o desordenamento do território, a falta de meios, o tempo anormalmente quente, o vento demasiado forte e errático, o fogo posto. Talvez todas estas coisas tenham contribuído para a desgraça, sim. No entanto, a causa principal desta catástrofe tem um nome: monocultura. E isto não é uma teoria minha.

A monocultura, invenção diabólica, prejudica não apenas a floresta, mas todas as áreas rurais, incluíndo as planícies que não têm muito por onde arder. A monocultura, seja do que for, destrói os ecossistemas e põe em perigo todas as espécies, plantas e animais, incluindo o Homem. A monocultura, cá e em todo o planeta, é responsável pela extinção de centenas de espécies, pela danificação dos solos, pela poluição dos lençóis freáticos, pela desertificação de regiões inteiras.

A Natureza tem sempre razão e há uma razão por detrás de tudo o que a Natureza cria. Basta observar uma floresta virgem para perceber que cada planta cresce num determinado lugar com um propósito. Umas para fazer sombra, outras para reter a humidade do solo, outras para alimentar animais, por exemplo.  Em contraste, se passearmos num zona de eucaliptal não se ouve nada. Nem um pássaro, nem um coelho, nem uma abelha. Apenas o silêncio. Apenas o nada.

E se a Natureza tem sempre razão, a ganância nunca tem razão nenhuma. A busca pelo dinheiro fácil, o usa e deita fora, a exploração exaustiva de um recurso, o desprezo pelo que se deixa às gerações seguintes, o não olhar a meios para rentabilizar uma produção, mesmo quando isso põe em risco a saúde pública. O desrespeito. É isso e apenas isso que motiva a monocultura. E nós, que queremos viver nas nossas casas confortáveis, cheias de tecnologia, que queremos ter roupinhas novas a cada estação e a despensa cheia, tão cheia que às vezes até nos damos ao luxo de deixar coisas passarem de prazo, que queremos tudo a que temos direito e mais ainda, fechamos os olhos, desprezamos o mundo rural e, depois de chorarmos um bocadinho ao ver as notícias dos incêndios, lá voltamos ao nosso estilo de vida suicida e insustentável, como se não fosse nada connosco.

É preciso fazer mais do que lamentar o que se passou. É preciso lutar para que haja mais terras como o Ermeiro, uma terra de nogueiras e amendoeiras, oliveiras e pinho que nunca ardeu. É preciso apoiar mais projectos de apoio à agricultura sustentável, cá e em todo o planeta. Podem ver como é possível fazê-lo, como não é retórica de ambientalistas, neste pequeno documentário. São apenas dezoito minutos. Dezoito minutos de esperança.











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