Dia dos Avós (e da Carolina, mas essa não é chamada para esta crónica)
Tenho a sorte de ainda ter duas avós. Três, se contar com a Maria, uma avó por afinidade, mas cujo amor por nós é mais do que de sangue. De todas elas guardo lembranças doces. Apenas lembranças doces.
Não consigo recordar-me de um açoite ou de um castigo. Mesmo perante a maior traquinice, o máximo que ouvi foi um “Foge daqui sua malvada! Quando o teu pai chegar vais ver!”. E o pai chegava, mas as únicas palavras eram “Claro que se portou bem”. Por vezes, era eu própria quem cedia ao peso da consciência e confessava que tinha partido uma jarra ou andado à bulha com o meu irmão. Mas nem aí me traíam, mudando de assunto com um encolher de ombros.
Dos meus avôs, que já não tenho, as recordações são igualmente doces. Sobretudo do Avô Domingos, que transformava o pinhal das traseiras numa selva onde fugíamos dos leões e a cama num autêntico palco onde encarnávamos mil personagens até o sono nos vencer.
Perante esta experiência, que sei que é semelhante à de muita gente, a única coisa que posso concluir é que os avós servem para adoçar a nossa existência. Não são eles que nos devem educar, nem disciplinar, nem aturar birras e rebeldias. Já tiveram a sua dose numa altura bem mais complicada da vida, em que não havia carros, nem máquinas de lavar roupa, nem aulas de puericultura, nem infantários, nem licenças de natalidade. Agora o seu único dever, que cumprem com um sorriso babado, é dar aos netos o que eles precisam: doçura, que não é mais do que uma mistura de amor, paciência e orgulho infinitos.
Sim, ser avô é bem capaz de ser melhor do que ser pai. E eles merecem-no. Só espero um dia também ter a sorte de lá chegar e mimar os meus netos como o meus avós me mimaram.
Um bom dia para vocês todos, queridos avós.
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