Há um universo paralelo aos domingos de manhã
Antes de ter um filho, a única coisa que me fazia levantar ao domingo antes das onze da manhã era uma viagem de avião. Então no Inverno, era coisa para ir tomar o pequeno almoço e voltar para a cama até à hora de almoço. Claro que tudo isso acaba com a maternidade. Quando o meu filho dorme até às nove é uma alegria e muitas vezes, pelas onze, já estamos a regressar a casa de um pequeno passeio pelo quarteirão ou de uma rápida incursão ao supermercado.
Nesses pequenos passeio descobri que, afinal, há imensa gente que se levanta cedo ao domingo: desportistas, pescadores, pessoas que vão passear os cães, turistas. Até aqui tudo bem. O que eu não sabia e fiquei a saber recentemente é que neste dia da semana há também um universo paralelo para famílias com filhos pequenos.
Tudo começou com um convite que uma grande amiga me fez para um concerto para bebés. Domingo. Dez da manhã. Sintra. Quando o despertador tocou às oito e pouco o meu estado de choque era tão grande que até o corpo me doía e mal conseguia falar. O duche foi a correr, o pequeno-almoço foi a correr, o bebé foi enfiado na cadeirinha a correr. Imaginei que teria a solidariedade de todos os outros pais, aquele olhar cúmplice de quem diz “lá estou eu a fazer mais um pequeno sacrifício pelo meu bebé”. Mas para minha enorme surpresa a sala estava cheia de famílias felizes e aperaltadas e os únicos olhares que levei foram os de “ao menos podias ter penteado o cabelo”. Para surpresa ainda maior, havia pais a fazer aquilo pela terceira e quarta vez. Ora eu até achei a experiência do concerto bem gira (aproveito para agradecer publicamente à amiga que me convidou) e até percebo que muita gente a queira repetir, mas porque não às três da tarde? Porque não ao meio dia?
Simples. Porque existe o tal universo paralelo habitado por famílias que voluntariamente saem de casa ao domingo de manhã e precisam de ter algo com que se entreter. Um universo onde os concertos e peças de teatro começam às dez, onde as festa de aniversário começam às dez e meia (!!!), onde famílias inteiras se apresentam despertas, penteadas, maquilhadas e com a roupa mais catita àquela hora da manhã.
No mundo normal, os domingos de manhã são para descansar, para ressacar, para aproveitar o único dia da semana em que o despertador não tem de tocar. Mesmo havendo bebés que acordem cedo, é o dia em que podemos fazer tudo com mais calma, saborear o pequeno almoço e brincar na sala sem estar a olhar para o relógio. No universo paralelo das famílias com filhos pequenos, às oito já é para estar de banho tomado, às nove tudo na rua e às dez começam os variadíssimos eventos.
Agora que estou a par da existência deste universo, só quero não sair do meu. Na nossa família os Domingos de manhã são para andar de pijama.
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