Isto não é uma competição


Quando uma criança nasce apodera-se das mães a sensação de que o seu filho é a melhor coisa do mundo. E sim, é mesmo. Mas ser a melhor coisa do mundo é diferente de ser o melhor do mundo (que isso é algo que só a Dona Dolores Aveiro pode afirmar) e é essa diferença que a maioria das mães e muitos dos pais não conseguem ver.

A competição começa logo nos primeiros meses: o meu já dorme a noite toda; a minha nunca chora; o meu já agarra o brinquedo; até ao cúmulo de um pai me ter dito que a sua filha de um mês já sorria, quando toda a gente sabe que nos primeiros três meses de vida os sorrisos são esgares musculares involuntários.

Mais tarde começa a comparação dos pequenos marcos do primeiro ano de vida: o meu já se senta; o meu já bate palminhas; a minha já gatinha; o meu já faz adeus; a minha já sabe andar; o meu já tem três dentes, a minha já brinca com o iPhone.

E a coisa não acalma ao longo dos anos: a minha já não usa fraldas; o meu já conta até vinte; a minha já se veste sozinha; o meu já sabe fazer contas de multiplicar; a minha teve cinco a tudo; o meu entrou em medicina; a minha já tem dois filhos; o meu já tem seis.

Mas mais do que o facto de se vangloriarem pelos feitos dos seus rebentos, que em muitos casos até podem ser dignos de nota e indicativos de uma inteligência ou destreza física superior, o que se torna irritante é o tom. É que não há inocência quando certas mães perguntam se o nosso bebé já anda. O objectivo é proferir um “o meu já!”, num tom triunfal, como se o marco do filho fosse, por consequência, um marco próprio, prova irrefutável do seu talento como progenitora. A questão é tão evidente que o meu marido costuma responder que o nosso Tiago, de apenas doze meses, até já lê. E acreditem que há mães que, por brevíssimos instantes, ficam a pensar se será mesmo verdade. Depois sorriem e percebem que é melhor pararem com perguntas irrelevantes.

É que a verdade, mamãs de todo o mundo, é que isto não é uma competição. Cada criança tem o seu ritmo de aprendizagem e de evolução e o fazer ou não fazer uma gracinha não significa que tenha algum problema nem que vocês sejam melhores ou piores mães. Tenham orgulho nos vossos filhos quer figurem no quadro de honra da escola, quer fiquem em último lugar na prova de natação. Emoldurem todos os diplomas mas também aquele desenho do gato que parece uma galinha. Gabem-se do seu talento musical, mas não escondam aquele dia em que foi tão mal educado que vos apeteceu chorar. Porque mesmo em dias como esse, cada filho é o melhor filho para a sua mãe.


Comentários

  1. True Story. Temos de amá-los todos os dias, e não fazer deles a extensão de nós próprios. Belo texto, vou partilhar no FB (com os devidos céditos).

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  2. Obrigada Lara. Pode partilhar à vontade :)

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  3. Pipa, pipa... Apesar do teu puto apresentar alguns problemas no seu desenvolvimento cognitivo não é caso para ficares com inveja dos pais que, como eu, têm um miúdo super avançado para a idade. Olha, o meu com 3 semanas faz coisas incríveis! Quando tem fome, chora. Quando tem a fralda cheia, chora. Quando tem cólicas, chora. Mais, quando está com birrinha, imagina..., chora! É mesmo um super bebé, estamos muito orgulhosos!

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