Férias com crianças não são férias


Não me interpretem mal. Adoro passar o meu tempo livre com os meus filhos e mal posso esperar pelo Verão para vê-los rebolar na areia e apanhar conchinhas à beira-mar. Só que a partir do momento em que se tem um pequeno ser, o conceito de férias muda radicalmente, pelo menos para quem as vê como dias para descansar. (E, a contar pelas vezes em que ouvi a frase «não foram bem férias, porque fui com os miúdos», são muitos.)

A primeira grande mudança é exactamente nas horas de descanso. É que uma criança não quer descansar: quer correr, saltar, brincar, cantar e sempre na companhia dos pais. O descanso faz-se à noite, com umas boas dez ou onze horas de sono. Deles, claro, porque os pais ainda têm de arrumar a casa, estender as toalhas molhadas, organizar os sacos, baldes e geleiras para o dia seguinte e fazer um esforço para passarem uns momentos a dois, sem gritaria, até desmaiarem extenuados na cama. Assim sendo, com sorte, já só dormem umas oito horas, porque ainda há a hipótese dos filhos serem muito pequenos e acordarem a meio da noite.

A segunda grande mudança é no planeamento. Aquelas férias idílicas a viajar ao sabor da aventura, a ir parando em sítios surpreendentes sem destino certo, sem quarto marcado, são extremamente difíceis de conseguir com uma prole. Para já, porque não se vai arriscar dormir no carro ou jantar numa tasca qualquer, sobretudo quem tem esquisitinhos com a comida. Mas essencialmente porque viajar com crianças requer muita bagagem e planos concretos. E digo planos porque convém mesmo de ter o A e o B. Exagero? Não me parece. Senão imaginem planear umas férias à beira-mar e estar a chover ou um dos miúdos ficar doente ou partir um braço ou apanhar um susto dentro de água e não querer ir mais à praia. O plano B é o que fará a diferença entre umas férias mais ou menos e um desastre absoluto.

A última grande mudança é nas noites. Férias com crianças são incompatíveis com o restaurante calmo com vista soberba ou com o novo bar que serve uns belíssimos cocktails. E enganem-se os que acham que podem continuar a frequentar esse tipo de locais depois dos pequenos terroristas aterrarem nas camas, exaustos de tanta brincadeira. A não ser que levem uma baby-sitter, que não só fique com os miúdos nessa noite, mas principalmente no dia seguinte, quando eles acordarem cheios de energia pelas oito da manhã.

Portanto, aquela coisa de aproveitar as férias para por o sono em dia, relaxar com um bom livro, ficar a comer caracóis e a beber imperiais pela noite dentro, terá de ser adiada até os filhotes terem todos idade para se entreterem sozinhos e já não haver grande risco de arruinarem o momento com uma birra.

Até lá, fica a minha sugestão: aproveitar ao máximo os filhos, com umas férias bem planeadas, cheias de actividades e momentos divertidos, mas guardar uns dias para gozar sem eles. Uns dias onde podemos voltar a ser descomprometidos, irresponsáveis e, sobretudo, preguiçosos. Pelo menos até ao momento em que as saudades batem e só queremos voltar para casa e tê-los a saltar logo de manhã na nossa cama.



ilustração por Sofia Silva

Comentários

  1. Olá Filipa.
    Entendo perfeitamente esta dualidade das férias mas posso garantir que é possível fazer muito mais coisas com as crianças do que normalmente se pensa. A minha filha viaja comigo desde que nasceu, fez a primeira viagem intercontinental com 5 meses. Nunca tive problemas. Faço regularmente viagens em Portugal e Espanha de carro ao sabor da aventura sem nada marcado e correram sempre lindamente. Acho que os pais podem arriscar mais. Se nunca habituarem as crianças a este tipo de viagens, vão sentir-se sempre muito pressionados a fazerem férias apenas dirigidas às crianças. Beijinhos e boas férias com ou sem crianças. Cristina

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