Cowspiracy ou como me vou tornar vegetariana
Desde a adolescência que me considero ecologista e, sem cair em fanatismos, assim que comecei a viver na minha própria casa e a tomar todas as decisões de consumo, tornei-me rigorosa na adopção de um estilo de vida o mais sustentável possível. Compro maioritariamente produtos orgânicos, dos detergentes aos iogurtes, tento estar informada sobre as inovações científicas que possam reduzir a minha pegada de carbono, ando de bicicleta, reciclo, reaproveito, reduzo, enfim, faço todos os pequenos gestos que contribuem para um mundo melhor. Mais, compro carne biológica para garantir que os animais são criados ao ar livre, e peixe pescado à cana para não destruir a fauna marinha que é arrastada pelas redes, para desespero do meu marido, que fica lívido cada vez que compara o preço do quilo dos mantimentos biológicos com os tradicionais (sim, já comprei perú da Serra-não-sei-do-quê ao preço de marisco). Pensava eu que assim, além de uma vida mais saudável, estava a promover a protecção da natureza e que todas essas minhas acções, pela lei do Karma, compensavam o facto de não ser vegetariana e ter diversas peças de vestuário e calçado de pele. Pensava e até já tinha escrito sobre o assunto aqui no blog.
Foi preciso ver o documentário Cowspiracy para perceber que não podia estar mais enganada. Fiquei em estado de choque. Foi como descobrir que a Terra afinal não é redonda e que todas as associações ambientalistas que sigo e para as quais já fiz alguns donativos, andaram a omitir um problema de dimensões épicas. E se não andaram a omitir, pelo menos não lhe deram o destaque e prioridade que ele merece. Acima de tudo senti que todo o esforço e dinheiro gasto ao longo de tantos anos foram em vão. Andei armada em ecologista, quando no fundo nunca deixei de contribuir massivamente para o buraco do Ozono e demais desastres ambientais. E qual é esse problema do qual ninguém quer falar? É que a coisa mais poluente e devastadora que existe para o nosso planeta não é o petróleo, mas sim a produção agro-pecuária.
Senão, vejam o que descobri em apenas hora e meia:
- 51% dos gases de efeitos de estufa são emitidos por gado e produtos derivados que produzimos para nosso consumo (http://www.worldwatch.org/node/6294)
- a indústria da carne e lacticínios consome quase 1/3 da água potável de todo o mundo (http://www.forksoverknives.com/freshwater-abuse-and-loss-where-is-it-all-go)
- a agro-pecuária é a principal causa de extinção de espécies, zonas oceânicas mortas, poluição aquática e destruição de habitats (http://www.epa.gov/region9/animalwaste/problem.html)
- 100 milhões de toneladas de peixes são capturados todos os anos e 40% não são consumidos (inclui espécies como baleias, golfinhos, tartarugas e tubarões) (http://ocean.nationalgeographic.com/ocean/global-fish-crisis-article/)
- a agro-pecuária é responsável pela destruição de 91% da floresta Amazónica (https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/15060)
- só no Brasil, 1100 activistas ambientais já foram assassinados por denunciarem estes e outros factos (http://www.theguardian.com/world/2009/apr/08/brazilian-murder-dorothy-stang)
Isto e muito mais é relatado neste documentário que, no final, nos faz querer ir despejar o frigorífico e virar vegan. Como é possível as Greenpeaces da vida andarem há décadas a impingirem-nos o poupe água, poupe energia, largue o carro, diga não ao plástico, salve as focas, quando a coisa mais importante que poderiam dizer era, simplesmente, deixe de comer carne? Não que as outras coisas não sejam importantes, mas quando os dados mostram a peso gritante que agro-pecuária tem na poluição do planeta, não se compreende porque é que não é esse o foco de todos aqueles que dizem querer salvá-lo.
Honestamente, não sei se algum dia vou conseguir ser vegan, mas estou empenhada em, gradualmente, até porque tenho duas crianças muito pequenas em casa, abraçar o vegetarianismo. Numa primeira fase, vou adoptar receitas vegetarianas ao jantar (as crianças podem comer carne e peixe na escola ou em casa de amigos, sem problema), mais tarde também ao almoço, mantendo o consumo de carne e peixe em locais que não tenham opções vegetarianas. Ou, seguindo conselho de Graham Hill nesta sua conferência no TED, tornar-me uma weekday vegetarian. É que depois de saber o que sei agora, não conseguirei viver comigo própria se não reduzir drasticamente o consumo de carne, peixe e derivados no meu lar.
PS: Agradeço, do fundo do coração, a todos os vegetarianos e vegans que me quiserem enviar sugestões de receitas, dicas de nutrição, restaurantes e alternativas saudáveis para crianças. Pode ser que um dia consiga substituir o drasticamente, pelo totalmente.
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