Tornamo-nos mestres na gestão do tempo


No outro dia ouvi uma colega de trabalho queixar-se de que não tem tempo para ir ao ginásio. Que trabalha muito, que anda numa pós-graduação, que chega a casa tarde e muito cansada, que o dia mal para as coisas dela, etc, etc, etc. A conversa não era comigo, por isso, contive-me de rir na cara dela, mas ainda assim não consegui abafar uma pequena gargalhada. É que a dita colega de trabalho tem 26 anos, vive em casa dos pais e naquele minuto fez-me lembrar de uma versão mais nova de mim própria.

Ora se bem me lembro dos tempos longínquos em que era igual a ela, e partindo da certeza de que trabalha numa agência de publicidade, e não num hospital, exército ou consultora, por exemplo, ter 26 anos e viver em casa dos pais significa:

- não cozinhar
- não tratar da roupa
- não andar sempre a caminho do supermercado
- não acordar durante a noite para assistir um qualquer dependente
- não ter grandes contas para pagar (bons velhos tempos em que gastava o meu ordenado em sapatos e viagens...)
- não ter de pensar nos outros elementos da família quando programamos o nosso dia/noite/ fim-de-semana.

Assim sendo, e sabendo hoje que, tal como eu, há milhares de  mulheres que têm de fazer todas as coisas acima mencionadas e ainda conseguem ir ao cabeleireiro (de vez em quando, vá), ao ginásio (eu vou três vezes por semana), ao cinema (não consigo, mas sei que há quem o faça), jantar com os amigos (mesmo que seja só uma vez de dois em dois meses), ler um livro (duas páginas por mês, mas não interessa), só posso constatar que as mulheres, depois de serem mães, transformam-se em autênticas mestres na gestão do tempo.

Como por magia, no dia-a-dia passam a caber todas as actividades pessoais, domésticas, profissionais, sociais e familiares. Sim, sai-nos do corpo, sim, passamos a depender do corrector de olheiras para manter um ar minimamente saudável, sim, quando finalmente nos sentamos no sofá (lá para as dez da noite) parece que estamos em coma, mas uma coisa é certa, ficamos com a certeza absoluta de que todas as desculpas que as pessoas arranjam para não fazer alguma coisa, não passam disso mesmo: desculpas.

Por isso meus amigos e conhecidos que não têm filhos, deixem-se de tretas e ponham-se a mexer. E quando estiverem comigo ou com alguma outra mãe que trabalha todo o dia, por favor não digam que não têm tempo para nada. A sério. É quase ofensivo.


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