Primeira crónica de 2011
Podia começar o ano por dizer que temos um novo mandato presidencial, para o qual, felizmente, não pude votar. (Se tivesse estado cá até tinha ido votar, como faço questão de ir sempre, por princípio e por homenagem a todas as mulheres que lutaram pelo sufrágio, mas assim sempre poupei os senhores de contarem mais um voto em branco.)
Podia divagar acerca da queda das tiranias no Médio Oriente, do grande dilúvio no Rio de Janeiro, do homícidio de um certo cronista social que inundou as páginas de todos os Media deste país ou até do novo tema favorito dos portugueses: a canção dos Deolinda sobre a geração recibos verdes, licenciada e desempregada.
Podia ainda falar sobre a falta de valores e de solidariedade que se vive num país onde o cadáver de uma velhota foi encontrado em casa apenas e só porque a casa ia ser penhorada pelas Finanças por falta de pagamento das dívidas fiscais. A senhora tinha morrido há nove anos.
No entanto, não me apetece falar sobre nada disso. Estou cansada das notícias tristes, das cusquices irrelevantes e da depressão colectiva. "The power of context", um fenómeno muito bem explicado por Malcolm Gladwell no seu livro "The tipping point". As pessoas reflectem aquilo que as rodeia. Se há papéis no chão, a probabilidade de alguém deitar outro papel para o chão aumenta. Se ninguém no nosso prédio recicla, sentimo-nos parvos por continuar a reciclar. Ora isto também funciona para as coisas boas e positivas. E é por isso que tento que o meu contexto seja muito cor-de-rosa. Até agora tem resultado. Tento rodear-me de notícias boas, pensamentos positivos, histórias que façam sorrir. Talvez se os Media começassem a fazer o mesmo, a mostar os bons exemplos, a antítese do chico-espertismo nacional, este país se tornasse menos trágico.
E por falar em histórias que fazem sorrir, lembrei-me de uma muito boa. Era uma vez uma menina que começou a escrever contos assim que conseguiu juntar as letras. À medida que foi crescendo, foi elogiada e acarinhada pela família, pelos amigos e até pelos professores de português. Porém, por mais que a incentivassem, a menina nunca teve a confiança suficiente para escrever mais do que o seu diário e outros devaneios. Até que um dia escreveu um livro e encontrou uma editora muito conceituada que quis publicá-lo.
Vai ou não vai ser um ano bom?
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