É realmente possível andar com o coração nas mãos


No primeiro ano de vida de uma criança há mil e uma emoções que uma mãe (e um pai) experimentam pela primeira vez, seja nas grandes conquistas, seja nas grandes dores de cabeça. E são tantas e tão variadas que ao fim de um ano sentimos que estamos preparadas para tudo. Sobrevivemos à dor pré e pós parto e ao prazer de abraçar o nosso filho pela primeira vez; sobrevivemos às angústias da amamentação e à ternura dos primeiros sorrisos; às noites sem dormir e às tardes cheias de gargalhadas; às primeiras febres e às primeiras vezes que se pôs de pé. Ao fim de um ano sentimo-nos umas profissionais e olhamos para uma recém-mãe com alguma condescendência, como quem diz “eu já fui assim, inexperiente, apavorada, a achar que nada mais existia no mundo para além do meu bebé, mas agora estou preparada para tudo”.

ERRADO!

Nenhum primeiro ano, por mais exigente que tenha sido, inclusive para mães de gémeos e trigémeos, nos prepara para o próximo nível: o nível da independência. Nenhuma primeira vez é tão emocionante como a primeira vez em que o nosso bebé se levanta e começa a caminhar. A destreza e a segurança com que o faz provoca-nos um turbilhão de emoções que incluem pânico, orgulho, alegria e incredulidade. E quando finalmente conseguimos voltar a respirar e a controlar as pulsações, fica a evidência de que o nosso bebé, aquela coisinha frágil e indefesa que não fazia nada sem nós, já é um ser independente que vai para onde lhe apetece, brinca com o que alcançar, foge, corre e conquista uma fascinante liberdade, espelhada nos seus olhos bem abertos e num sorriso triunfal. 

Resta-nos então perceber o que significa andar literalmente com o coração nas mãos, enquanto perseguimos cada um dos seus passos pedindo a todos os deuses que ele não caia, que ele não bata com a cabeça, que ele se lembre de por as mãos à frente quando inevitavelmente se espalhar ao comprido. 

Sei que nunca mais vou conseguir recolocar o meu coração na respectiva caixa torácica. Porque hoje o meu bebé anda mas amanhã há-de querer correr, saltar num trampolim ou andar de bicicleta. Ou de patins ou de mota ou de carro ou de barco ou de boleia com amigos que eu não conheço. Sei que nunca mais vou descansar porque o meu bebé agora é do mundo e vai explorá-lo à sua maneira, sem ouvir os meus conselhos. E sei que a partir de agora vou ouvir a voz da minha mãe na minha cabeça, aquela voz que me irritava quando era pequenina porque me considerava tão crescida: cuidado, não vás por aí, atenção ao degrau, não corras, olha que cais, ainda partes a cabeça, pára sossegada, eu bem te avisei, dá cá a mão.

Comentários

  1. Pronto, ha pouco chorava de tanto rir... Agora, estou mesmo a chorar :,)

    Claudia Salgado, Setubal

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