Plátano
É raro ficar presa a um poema. Presa no sentido de não o querer largar; de ler e reler só para confirmar que cada palavra está no lugar certo e contém tantas outras palavras dentro. Ler e reler só por prazer, como quem admira o mesmo quadro ou ouve a mesma música vezes sem conta. Acontece-me com "monstros" como O'Neill, Eugénio de Andrade, Pessoa, Cesário ou Chico Buarque. E aconteceu-me recentemente com um poema de um amigo escritor, Pedro Guilherme-Moreira, vencedor do concurso Textos de Amor do Museu Nacional da Imprensa. Podem ler outras coisas igualmente belas no seu blog.
Plátano
que nem o teu desespero
nas tardes frias de chuva
nem essas mãos a tremer
sobre as cartas que escrevi
nem os plátanos
que te deixam no outono
nem a vigília do inferno
nem a indolência do céu
nem a dor da madrugada
nem dúvidas
sobre o que nasce
certezas
sobre o que morre
nem memórias, por mais doces,
nem absolutamente nada
meu amor te dê a dúvida
de que te pertenço e fico
para lá do fim da noite
e que até no tempo infindo
só os teus lábios me abrandam
só os teus beijos me calam
PG-M 2012
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