Da gravidez: as hormonas são umas cabras
Um dos maiores desafios de uma gravidez é manter a sanidade mental perante as enormes transformações a que o nosso corpo está sujeito. Não me refiro apenas aos inevitáveis quilos a mais, alargamento das ancas, das costas, dos pés, inchaços e demais transtornos. O grande problema são mesmo as hormonas.
Da puberdade à menopausa, o desequilíbrio hormonal é algo com que todas as mulheres aprendem a conviver, devido àquela coisa fantástica que se chama menstruação. Há sempre uns dias do mês em que nos sentimos mais irritadas ou cansadas ou vulneráveis ou tudo isso ao mesmo tempo. E se, por um lado, a gravidez nos dá vários meses de tréguas desse problema, por outro, altera a função de praticamente todas as glândulas do organismo resultando em estados psicológicos ainda mais difíceis de controlar e que duram não apenas uns dias por mês, mas toda uma gestação.
É que a placenta produz várias hormonas necessárias à manutenção da gravidez. A principal hormona que a placenta produz, a gonadotropina coriónica humana, evita que os ovários libertem óvulos e estimula-os a produzir continuamente valores elevados de estrogénios e de progesterona, que são necessários para que a gestação prossiga. A placenta também produz uma hormona que estimula a actividade da tiróide. Uma tiróide mais activa muitas vezes acelera a frequência cardíaca e provoca palpitações, sudação excessiva e instabilidade emocional. Muitas vezes é uma maneira de dizer. A verdade é que, pela minha dupla experiência e observação de outras grávidas, é SEMPRE.
Como resultado, as grávidas choram, as grávidas gritam, as grávidas perdem a cabeça com coisas tão parvas como partir um copo ou deixar queimar o arroz. Para mais, as grávidas sentem-se sozinhas e incompreendidas, pelo que o apoio das amigas é essencial e os telefonemas e visitas muito apreciados. As grávidas sentem-se assustadas e ansiosas, pelo que a compra compulsiva de tudo quanto é livro e revista da especialidade é perfeitamente normal, mesmo quando já ocupam uma prateleira inteira da sala. As grávidas sentem-se menos atraentes, pelo que é importante que os companheiros as acarinhem e elogiem, mesmo naqueles dias em que, à simples pergunta “Porque é que estás tão mal disposta?”, a resposta for “Porque é de manhã e tu estás a falar”.
A má notícia é que pouco há a fazer para contrariar este estado. Quem convive com uma grávida tem de se munir de uma dose extra de paciência e compreensão. Respirem fundo e peçam desculpa, mesmo sem saber bem porquê. Não façam muitas perguntas, muito menos daquelas parvas tipo “o que é que tens?” ou “o que é que eu fiz?”. Não contem como se divertiram imenso na discoteca até às seis da manhã ou de como estava delicioso o jantar de bife tártaro acompanhado de vinho tinto. Acima de tudo, não se queixem a uma grávida. Nenhum problema, a não ser que seja uma doença grave ou um acidente quase letal, se compara às privações e provações a que uma mulher está sujeita durante a gravidez. O “hoje dói-me tanto a cabeça” ou “não preguei olho a noite passada” podem ser mesmo considerados insultos, sobretudo nas últimas semanas de gestação.
A boa notícia é que é um estado temporário. Bom, na verdade, o início da amamentação também provoca desequilíbrios hormonais, desta vez devido à acção de outras duas queridas hormonas, a prolactina e da ocitocina, sendo por isso importante manter o stock de Kleneex em casa. Mas com o tempo, a coisa acalma e a mulher volta ao ritmo de desequilíbrio mensal a que todos estavam habituados. Depois de sobreviver às sevícias das hormonas da gravidez e puerpério, a TPM parecerá uma brincadeira de crianças.
PS: deixem nos comentários as vossas experiências de desequilíbrio hormonal :D
A minha mais grave foi quando atirei um balde de tinta amarela à porta de um café em obras, porque eles insistiam em começar a fazer barulho antes das 8 da manhã (ainda há vestígios de tinta no passeio...)
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