Ensaio sobre a estupidez
Não é segredo para ninguém que anda por aí muita gente estúpida. Faz parte da vida e do equilíbrio do Universo. Aliás, a Humanidade não existiria se todos os seres humanos fossem brilhantes, inteligentes e dedicados ao pensamento. Seríamos ingovernáveis, viveríamos na anarquia, morreríamos de fome e de frio, porque as tarefas intelectuais alimentam a alma, mas não o corpo.
O problema surge quando as pessoas estúpidas chegam a posições de poder. E são tantas... Não apenas no poder que nos governa, mas sobretudo nas actividades que fazem parte do nosso dia-a-dia. O chamado poderzinho. O poderzinho não mata mas mói. Encosta-nos à parede, tenta humilhar-nos sem necessidade, sem motivo aparente, apenas porque sim, apenas para se sentir momentaneamente superior.
Um exemplo de poderzinho é o exercido por certos elementos das forças de autoridade. Sabem aquele polícia antipático que gosta de se fazer de mau e ameaçar-nos com uma multa quando paramos o carro em segunda fila por dois minutos, mas que depois estaciona o seu veículo em cima do passeio ou em frente à garagem? Aquele que nem diz bom dia, passando logo para o “os seus documentos por favor”? Tenho um desses na minha rua. Está sempre a saltitar de café em café, a desfilar a sua enorme barriga flácida, e só se mexe para chatear quem pára mal o carro. Faria melhor figura se multasse quem passa a mais de 60km/h numa zona residencial, ou chamasse a atenção de quem deixa o cãozinho fazer necessidades no passeio. Mas não. Isso seria fazer algo útil pela sociedade, algo que os estúpidos não conseguem alcançar.
Outro exemplo de estúpidos que gostam de exercer o seu poderzinho são os chefes autoritários. Lá está, se não fossem estúpidos não tinham necessidade de serem desagradáveis com os colegas. Normalmente dividem-se em dois tipos: os que gritam, exigem, dão ordens, mas nunca põem a mão na massa, não se coibindo, no entanto, de ficar com os louros do trabalho dos outros; e os que são tão inseguros que querem fazer tudo sozinhos, para mostrarem trabalho e se sentirem imprescindíveis, em vez de delegar, ensinar e trazer o melhor da sua equipa ao de cima. Qualquer um dos tipos tem duas caras: a cara de mau para os subordinados e a cara de animal amestrado para os superiores hierárquicos. E qualquer um dos tipos tem também um desfecho de carreira: ou os seus superiores são igualmente medíocres e protegem-se uns aos outros nos seus cargos de chefia, perpetuando a estupidez corporativa; ou os seus superiores não são estúpidos e acabam por colocá-lo numa posição aparentemente privilegiada, mas que é apenas uma maneira de limitar os estragos que a sua estupidez poderia provocar na organização. (Agora já sabem porque é que o estúpido que não dá uma para a caixa tem o título de director e um gabinete só para ele.)
Depois temos o funcionário público estúpido: aquele que nos deixa ficar na fila durante duas horas para depois nos dizer que tínhamos de ter o papel, o carimbo, o impresso, o documento ou o raio que o parta, mas agora só amanhã. Aquele que nos olha com um ar superior e um sorriso maléfico enquanto nos entope com burocracias e exigências, sabendo que não temos outro remédio senão obedecer e esperar o tempo que for preciso. E ainda há o professor estúpido, que descarrega as suas frustrações nos miúdos, o segurança estúpido que nunca pode fazer nada, o porteiro de discoteca, enfim, os exemplos são incontáveis, infelizmente.
Bem sei que os estúpidos também têm direito à vida e a uma carreira profissional, mas não deviam ter direito a estar em posições em que possam deliberadamente prejudicar ou dificultar a vida dos outros. Como se infernizar quem lhes aparece pela frente com a sua boçalidade fosse a maneira de se vingarem de uma vida chata e sem perspectiva de melhoras.
Devia haver uma lei universal, tão definitiva como a lei da gravidade, que proibisse o acesso de pessoas estúpidas a qualquer tipo de poder. Por exemplo, numa candidatura a uma função ou promoção, havia um teste ao nível de estupidez do candidato e quem se revelasse uma besta, simplesmente não poderia ser admitido (por mais cunhas que tivesse ou favores que fizesse). “Muito obrigado pelo seu tempo e pela sua candidatura, mas o teste revelou que você é demasiado estúpido para este lugar. Boa tarde e boa sorte”. E pronto, o estúpido ia à sua vida e o mundo era um lugar melhor. Porque a estupidez humana não tem limites, mas devia ter.
Grande texto :)
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