Fotografia com alma


Uma das coisas mais bonitas numa fotografia é quando ela nos conta uma história. A captação de um momento que em si encerra muito mais do que o objecto fotografado. E quando esse objecto é uma pessoa, o resultado chega a ser comovente.

Só que conseguir captar a essência de alguém num clique é algo que poucos conseguem fazer, porque à excepção dos modelos profissionais, a maioria das pessoas fica intimidada quando tem uma objectiva apontada a si. É muito difícil estar completamente à vontade, sermos completamente nós próprios. Há sempre a incerteza de onde pousar a mão, de como colocar o braço, do quanto se deve mostrar os dentes ou abrir os olhos ou cruzar a perna. Então, o fotógrafo tem de trabalhar a pessoa, fazê-la esquecer a máquina e os flashes e o corpo, até conseguir arrancar um sorriso natural ou um olhar sincero.

Pois, isso é o que faz um fotógrafo. Mas quando o fotógrafo é mais do que um profissional, quando é realmente um artista, consegue arrancar os sorrisos, os olhares, o bom ou mau e acima de tudo a verdade.

Adoro ser fotografada. Desde miúda que adoro que me tirem fotografias e, desde que lancei o meu primeiro livro, tenho sido fotografada por diversos profissionais, alguns deles premiados com galardões importantes no foto jornalismo. Mas raramente olhei para uma fotografia minha como sendo mesmo eu. Há sempre uma pose ou qualquer coisa que faz com que ali esteja retratada uma das minhas facetas, mas nunca eu inteira, eu como me vejo, eu com todo o meu ser. Até ontem.

Ontem tive o privilégio de ser fotografada pela Vera Marmelo, uma fotógrafa auto-didacta que começou a dedicar-se ao retrato há cerca de sete anos. Tem fotografado essencialmente músicos e artistas e o seu trabalho fala por si. Infelizmente, como quase todos os grandes artistas portugueses, ainda não se pode dar ao luxo de se dedicar exclusivamente à fotografia. O que é uma pena, porque se o seu portfólio actual é fruto das horas vagas, nem imagino o que poderia fazer se se pudesse dedicar sem restrições à sua arte.

E pelos vistos não sou a única a sentir que a Vera sabe como poucos captar a essência de alguém. A propósito do lançamento do livro da Vera,  caderno de posters, Samuel Úria disse "na música portuguesa, tal como a conheço, não é irónico, mas poético, que a grande retratista da verdade instantânea tenha um nome que significa verdade". E eu subscrevo.








© Vera Marmelo







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