Galliano

Quando os génios mostram que são humanos não conseguimos perdoá-los. 

As suas extravagâncias, a falta de humildade, o mau feitio são tolerados, mas nunca as pequenas coisas que nos lembram de que são pessoas como nós. A nossa sorte é que a Internet só apareceu nas últimas duas décadas, senão poucos seriam os homens e as mulheres por quem nutrir genuína admiração. Quem poderá garantir que DaVinci era um bom homem, ou Aristóteles, ou o nosso amado Camões?

Por mais biografias que surjam a tentar fazer descer os nossos ídolos à condição humana, há sempre uma justificação, uma contextualização histórica para nos apaziguar a consciência. Ninguém quer admirar obras de arte criadas por um pedófilo ou um violador ou um bêbado agressivo que espancava a mulher. Só que hoje já não podemos fugir às evidências, mesmo que queiramos. Hoje temos um género de Big Brother, mais tenebroso do que aquele imaginado por Orson Welles, porque funciona a partir de qualquer telemóvel. A mesma arma que nos catapulta para a fama mundial, pode fazer-nos cair em trinta segundos, o que significa que poucos serão os ídolos do próximos milénio.

E foi isso que aconteceu ao estilista mais brilhante dos últimos vinte anos. Foi apanhado num vídeo que nos mostra que é humano, agressivo e não sabe beber. Não acredito que ame Hitler, porque alguém que consegue criar tamanha beleza não pode ter um coração tão sujo. Estava bêbado e irritado com a companhia. Quis chocá-los, provocá-los e foi apanhado na gigantesca e incontrolável teia. Resultado: os Media deliciam-se e a Dior, que não teve alternativa, perde de forma triste o maior estilista que teve desde o seu fundador.

Para mim será para sempre um génio e eu perdoo-lhe.

Fotografia de Simon Procter, Galliano Royale


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